Ao ver essa frase a primeira vez fiquei pensando sobre ela. Normalmente desabafamos falando "tô de saco cheio de ...", exprimindo nossa indignação com algo que nos impacienta ou incomoda. No entanto, ao substituir a palavra saco por ovário, local onde ficam os óvulos femininos a frase muda de contexto. O bom e velho saco, um local subjetivo em que guardamos os sapos engolidos no dia-a-dia talvez não tenha muito a ver com o saco testículo, onde guardamos nossas sementes. A substituição de saco por ovário, órgão feminino que faz parte do útero, primeiro local de desenvolvimento do projeto humano, em vez do sentimento de indignação e revolta traz uma constatação, uma afirmativa provocativa: trazemos a violência dentro de nós, nos óvulos que fecundados darão vida a outros seres. Assim, a violência se reproduz através da reprodução humana. A violência é algo inerente ao ser humano. Será?
Essa pixação localiza-se num viaduto próximo da Rodoviária de Brasília. As pixações com suas palavras de ordem, com seu desacato às normas estabelecidas, ruídos irritantes nos espaços públicos e privados, dessa vez trouxe uma reflexão, uma provocação. Será que eu me enquadro nisso que foi dito? Também trago as sementes da violência no meu sêmen? é essa a herança que deixo à humanidade?
Sem fazer apologia às pixações afirmo que ao lê-la fiquei pensando em mim mesmo e no meu caminho de violência.