sábado, 30 de janeiro de 2010

"Tamos de Ovário Cheio de Violência!"

Ao ver essa frase a primeira vez fiquei pensando sobre ela. Normalmente desabafamos falando "tô de saco cheio de ...", exprimindo nossa indignação com algo que nos impacienta ou incomoda. No entanto, ao substituir a palavra saco por ovário, local onde ficam os óvulos femininos a frase muda de contexto. O bom e velho saco, um local subjetivo em que guardamos os sapos engolidos no dia-a-dia talvez não tenha muito a ver com o saco testículo, onde guardamos nossas sementes. A substituição de saco por ovário, órgão feminino que faz parte do útero, primeiro local de desenvolvimento do projeto humano, em vez do sentimento de indignação e revolta traz uma constatação, uma afirmativa provocativa: trazemos a violência dentro de nós, nos óvulos que fecundados darão vida a outros seres. Assim, a violência se reproduz através da reprodução humana. A violência é algo inerente ao ser humano. Será?

Essa pixação localiza-se num viaduto próximo da Rodoviária de Brasília. As pixações com suas palavras de ordem, com seu desacato às normas estabelecidas, ruídos irritantes nos espaços públicos e privados, dessa vez trouxe uma reflexão, uma provocação. Será que eu me enquadro nisso que foi dito? Também trago as sementes da violência no meu sêmen? é essa a herança que deixo à humanidade?

Sem fazer apologia às pixações afirmo que ao lê-la fiquei pensando em mim mesmo e no meu caminho de violência.

Um comentário:

  1. Como boa feminista que sou, a leio como uma provocação à utilização dos termos masculinos aplicados à humanidade desconsiderando as mulheres, a presença feminina. Alegro por saber-se petencente ao grande ovário, mas não creio que seja ele a morada origem da violência. Pra mim ela é construída fora dele e, se me premite mais feminismo, "sacos" a criaram...
    Beijos.

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